Hackathon como instrumento de inovação aberta

As empresas precisam estimular a cultura de inovação para suportar os desafios da transformação digital. Por isso, é urgente buscar soluções em um curto espaço de tempo e incentivar a criatividade

Maratona hacker – ou hackathon como é conhecido – é um evento de inovação no qual os participantes, depois de alguns dias de trabalho intenso, conseguem desenvolver ideias e apresentar soluções para desafios propostos por empresas dos mais diversos segmentos. Esse modelo vem ganhando cada vez mais força dentro das organizações porque elas perceberam que a inovação não precisa vir, obrigatoriamente, dos próprios colaboradores. Soluções criativas e viáveis podem nascer de pessoas sem qualquer vínculo com a instituição, que olham os problemas de fora e de modo isento.

A cultura organizacional, muitas vezes, mata a criatividade. Os funcionários, por estarem inseridos dentro de uma rotina de trabalho e processos bem definidos, não conseguem encontrar soluções inovadoras para velhos problemas. “Isso já estava assim quando cheguei e apenas dei sequência ao trabalho.” Essa é uma das expressões que se ouve geralmente e retrata bem o cenário das organizações.

Realizei o 3º Hackathon – Desafio ODS Foco no Agro, em parceria com o IFSul de Minas e Sebrae MG, no final do mês passado. O evento contou com a participação e ajuda da amiga Yara Neves, que convidou Adalberto Teodoro e a Laura Rodrigues. Juntos na organização pudemos desenvolver esse trabalho incrível. O evento foi todo produzido online e tivemos uma participação expressiva de alunos e professores dispostos a encontrar soluções para os dois desafios propostos. Antônio Rafael, proprietário da Fazenda Jatobá, no interior de Minas Gerais, buscava um modelo para transformar o passivo ambiental em um produto ecologicamente correto. Já Alexandre Pinheiro, diretor da Comexim, buscava uma solução para o reaproveitamento do pó gerado durante o processo de rebeneficiamento do grão cru do café verde.

O mais interessante é que as 11 equipes formadas pelos alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas não tinham ideia de quais seriam os desafios e não podiam, portanto, discutir previamente uma solução antes da maratona começar. Eles tiveram 72 horas corridas para entender o problema, pesquisar possíveis soluções, validar as hipóteses e apresentar as soluções.

As etapas do Hackathon

No momento da abertura do evento, as empresas apresentaram os problemas enfrentados e as equipes começaram a escolher qual desafio trabalhar durante os três dias de evento. Durante todo o tempo foi preciso motivar os participantes. Em um evento online é fundamental a integração das equipes e o empenho dos organizadores para estimular a participação e garantir as entregas.

Por isso, assim que os participantes passam a conhecer os desafios, é fundamental falar sobre o propósito empreendedor. E esse foi o tema da palestra ministrada por Joanna Pagy, uma empreendedora serial e especialista em design de serviços.

O que motiva o empreendedorismo e como a inovação pode transformar pessoas, empresas e o mundo. Mas o que define um problema? O que torna a solução algo inovador para as empresas? Por que investir tempo na busca por uma solução?  Pensando em responder essas perguntas, palestrou também durante o evento o especialista Gessé Pereira. Ele que trabalha com o desenvolvimento de produtos digitais com foco no setor varejista na empresa Lett.

Durante a maratona, é preciso ter sempre em mente qual o problema, a causa, consequências e o impacto disso nos negócios e também na sociedade. Por isso, durante o hackathon, os participantes são envolvidos em diversas outras palestras que mostram o caminho, apresentam metodologias ágeis e fazem com que eles tirem as ideias da cabeça, comecem a definir e prototipar a solução. De nada adianta ter uma excelente solução na cabeça se ela não for confrontada, testada e validada. Por isso a importante presença da palestrante Bruna Pereira, que é coordenadora na Fiemg Lab. Ela falou sobre definição e prototipação da Solução.

Mentorias para manter o foco

Algo que não pode faltar durante um hackathon é o apoio dos mentores. Estudantes e profissionais de mercado com experiência para sugerir caminhos, contribuir na compreensão do problema e ajudar as equipes a não fugirem do foco. Durante o evento, foram mais de 10 horas de mentorias técnicas para garantir a qualidade das entregas. Esse trabalho começa com uma conversa com as equipes, apresentação de ferramentas e instrução para o preenchimento dos modelos de validação, além da criação dos formulários e apresentações.

Na metade do evento, na manhã de domingo, os grupos estão completamente envolvidos com o projeto e passam a refinar a solução. Momento ideal para trabalhar a modelagem do negócio e deixar as coisas mais claras. Nesse momento, contamos com a importante palestra do Eloízio Neves, especialista em inovação para falar sobre validação da solução, mapa da empatia, persona e pesquisa.

No início dos trabalhos, com a chuva de ideias (brainstorming), as propostas ainda estão muito soltas ou divergentes. É hora de convergir para a solução. É o momento de fazer escolhas e apostas. Não é possível entregar tudo que se pensou, mas é preciso entregar o produto mínimo viável. Algo rápido, passível de diversas melhorias e alterações até que se converta em um produto de mercado. Na proposta de trazer de modo claro uma solução, foi a vez de Cristiane Toledo – Product Owner na ACE Cortex, falar sobre modelagem de negócios.

A jornada empreendedora é fruto de transpiração e envolvimento, como afirma o escritor Steven Johnson em seu livro ‘De Onde Vem as Boas Ideias’. Para ele, as boas ideias são palpites acumulados e um conjunto de repertórios que, somados, podem trazer soluções criativas. Mas em um evento de poucas horas como um Hackathon, é preciso pesquisar muito, conhecer bem o problema e estar disposto a abrir mão de hipóteses para se fixar na solução de algo que seja aplicável.

O dia de apresentar as soluções

O último dia, conhecido como Demoday, é reservado para que as equipes apresentem o pitch das soluções. Os participantes então tiveram duas palestras sobre o tema. A primeira  com Yan Cantuária, head de inovação na Galena para falar sobre pitch e eu, fechando a rodada de palestras para trabalhar a metodologia pitch e explicar sobre a dinâmica do demoday.

Eles apresentaram as soluções em três minutos no formato Pitch. Além dos empresários que trouxeram o desafio no Hackathon do IFSul de Minas, a banca também teve a participação do Leonardo Dias, CEO da Novo Agro Ventures. Uma banca de especialistas é o ápice do evento e, portanto, o momento mais importante de toda a jornada. “Qual dor sua startup está solucionando?” foi uma das perguntas dos avaliadores. Será que essa solução é viável? Qual o custo? Há mercado e realmente essa é uma necessidade latente?

Quem vence um Hackathon?

Já organizei alguns eventos do tipo. É nítido que o empenho da equipe, seu envolvimento e a vontade de construir algo fazem total diferença no dia do Pitch. A startup Agrotech360 e a SustentBio venceram a competição por isso. Seus participantes viraram a noite desenhando o projeto, discutindo as soluções e transbordando a vontade de fazer a diferença.

Um jovem transformado por um evento como esse muda para sempre seu modo de olhar o mundo, perceber problemas e propor soluções. Vivemos na era das grandes transformações e pavimentar o futuro passa, sem dúvida alguma, pela vontade legítima de fazer a diferença. Parabéns ao Sebrae MG e ao IFSul De Minas pelo evento.

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Alysson Lisboa

Consultor e Professor